Hoje a internet foi bombardeada com comentários sobre o suicídio de uma jovem abalada pela divulgação de um vídeo íntimo. Os comentários, na sua maioria, defendiam o direito de a jovem gravar suas aventuras sexuais e censuravam o fato de o vídeo ter sido divulgado, por quem quer que tenha sido. Referiu-se, inclusive, uma lei que estaria sendo gestada pelo ex-jogador Romário que preveria pena de prisão para quem fosse autor de divulgações deste gênero.
Não podemos fugir da realidade em que vivemos. É absolutamente inerente à natureza humana tanto a disposição para divulgar acontecimentos íntimos envolvendo terceiros, quanto para procurar este tipo de conteúdo. Quando envolve relações sexuais então, nem se fala. Conforme o jornalista Luís Nassif a pornografia responde por 30% de todo o tráfego na internet, sendo que páginas como a do Xvideos é responsável por 4,4 bilhões de páginas vistas por dia, mais do que o triplo de páginas de sites como o da CNN ou ESPN.
E não será apenas um dos participantes da relação sexual que poderá fazer a divulgação do vídeo: celulares, tablets ou computadores perdidos, doados ou vendidos podem ter os seus dados, ainda que apagados, recuperados, além de vírus e outros mecanismos serem capazes de penetrar em arquivos privados trazendo o seu conteúdo para o público, Carolina Dieckmann que o diga.
Pode parecer complicado. Talvez seja mesmo um direito inalienável dos indivíduos de se filmar ou fotografar durante uma relação sexual. Entretanto também faz parte da natureza humana a divulgação de intimidades alheias e, ainda que se possa vir a criminalizar esta ação, ainda assim haverá os que, protegidos pelo anonimato que a internet proporciona, ou pelo menos parece lhe proporcionar, permanecerão divulgando vídeos íntimos de terceiros. Da mesma forma como fazem os divulgadores de pedofilia e outras perversões…
De uma coisa, contudo, não podemos acusar o divulgador da imagem: pelo suicídio da jovem. É consabido que o suicídio é uma forma de psicopatia. Pessoas que se suicidam têm propensão ao suicídio. Não há dúvidas que a situação toda serviu de gatilho para que a jovem retirasse a própria vida. Entretanto não se pode imputar exclusivamente a este fato a morte da jovem.
Tampouco se pode passar a acreditar que a criminalização do comportamento venha a ser a solução. Educação é solução. Temos um país repleto de leis, em especial penais, o que deixa nossas prisões lotadas, com um baixíssimo índice de recuperação dos criminosos. Os nossos presídios servem muito mais de escola de criminalidade do que para a recuperação dos delinquentes.
Se há alguma lição a ser apreendida com este lamentável acontecimento é que pais e filhos devem buscar o diálogo, talvez cada vez mais franco e com menos preconceitos. Se não falamos sobre algumas coisas, não quer dizer que elas não acontecem. Saber disso tarde demais não é solução.
Há um livro muito interessante sobre jovens suicidas, As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides, que inclusive virou filme na lente de Sofia Coppola, cujo trailer está logo abaixo.