
A imagem que ilustra este artigo corresponde a uma postagem no Twitter da Universidade Federal de Minas Gerais, onde há uma foto em que uma aluna de Letras saúda os calouros com a utilização do que se tem convencionado chamar de “linguagem neutra”.
Na verdade a frase ali registrada de neutra não tem nada. Pelo contrário, parece mais algo dito pelo humorista Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, do grupo Os Trapalhões.
“Bem-vindes caloures da Letras” é uma frase triste por vários aspectos. É triste porque emitida por uma aluna de uma prestigiada universidade pública que tem as suas vagas duramente disputadas por estudantes interessados em melhorar as suas expectativas de futuro a partir do diploma do ensino superior. Mas é ainda mais triste porque é nas faculdades de Letras que se cultua ou deveria cultuar o idioma nacional.
Linguagem neutra que, ademais de invocar grafias inexistentes no nosso idioma, não ajuda em nada as demandas que os diversos grupos minoritários relacionados a gênero.
Mulheres, pessoas trans, homo ou bissexuais, ou quaisquer das classificações que se incluam na sigla LGBTQI+, ou uma das suas atualizações, não necessitam de alterações idiomáticas para terem seus direitos respeitados.
Este tipo de demanda ou de manipulação semântica nunca foi objeto de demanda de homens, alegadamente o gênero opressor que, desde épocas imemoriais se identificaram como dentistas, taxistas, cientistas, cineastas, especialistas, anestesitas, etc.
Tampouco prejudicou a sexualidade ou identidade de gênero de animais como zebras, girafas, capivaras, onças, cobras, etc.
Homens tem a sua ideologia, sua classe, sua profissão, sua identidade. Todas no feminino.
Se a língua é algo vivo e que se transforma, esta transformação deve ser algo natural como, por exemplo, tem sido a incorporação de palavras de outros idiomas ao nosso vernáculo, como kiwi, mouse ou joystick.
Bons artistas da linguagem, como escritores, ou outros profissionais, com certeza lograrão usar, se acharem conveniente, uma linguagem neutra existente, sem precisar apelar para a invenção de palavras ou alteração de sua grafia o que, aliás, pode prejudicar a leitura de deficientes visuais através de ferramentas adequadas para a leitura.
Assim no lugar de calouros, podemos usar “estreantes” ou “debutantes”, no lugar de alunos, “estudantes”. Tudo de uma forma elegante e sem corromper o idioma de Camões.