Eu era substituto recém-empossado. Ainda com a euforia da recém-aprovação no cargo e tentando levar as audiências com uma certa leveza, que depois descobri ser artificial.
A audiência era inicial e eu estava para iniciar as tratativas de conciliação (obrigatórias em se cuidando do Processo Trabalhista).
O demandado era um senhor grave, sisudo. Dirigi-me diretamente a ele e lhe perguntei: “O senhor por que está tão sério?”
– Senhor Juiz – ele respondeu -, estou sério porque este é um processo muito importante e estou preocupado com o seu resultado.
Foi um choque de realidade. De fato estava ali um cidadão que estava defendendo o que acreditava ser o seu direito. O processo era de relação de emprego rural, referente a um largo período de contrato, e que na época sequer era coberto pela prescrição. Assim, acaso reconhecido o direito do trabalhador, o réu, ali presente e tão sério, poderia, de fato, sofrer um grande revés financeiro, o que não seria, em lugar algum do mundo, motivo para alegria ou descontração.
Pedi sinceras desculpas, me recompus e terminei de conduzir a audiência tendo fracassada a primeira proposta de acordo e recebida a contestação. Como na época eu era substituto, não fiquei sabendo como se encerrou o processo. Eu, todavia, a partir de então deixei para descontrair o ambiente apenas quando encontrando clima para tanto, sendo que, nas situações mais graves e tensas, até não muito comuns na Justiça do Trabalho, me prendo à liturgia processual, evitando o quanto possível desviar-me do estrito cumprimento da lei.
Muito bom este post. Acredito que o formalismo demasiado nos afasta daquilo que mais enobrece o processo laboral, que é sua oralidade e celeridade ímpares.
Um abraço!
Eu realmente o imaginei com a faca na boca dele e perguntando “Why so serious?”
Meda…
🙂