O substitutivo ao projeto de lei que tipifica crimes praticados no mundo virtual apresentado pelo Senador Eduardo Azeredo, no qual pretendia que os usuários da Internet para poderem, por exemplo, enviar e-mails ou baixar arquivos se identificassem documentalmente aos seus provedores, foi retirado.
Assim se mantém o grande dilema de como identificar os usuários praticantes de crimes de diversas espécies que vão do estelionato à pedofilia, passando por apologia ao crime e, ainda, de novas figuras, como, por exemplo, a invasão e/ou pichação de sítio da Internet ou apropriação de conta pessoal no Orkut.
Dilema que o Google de forma alguma sofre. Apreciando-se apenas algumas das ferramentas do Google de uso público e geral, o que, se acredita, seja apenas a ponta do iceberg em relação a todo o seu potencial, se pode depreender o quanto o Google sabe de cada um de nós.
Para começar pelo básico as contas de e-mail e de grupos de discussão gratuitas são já uma fonte inesgotável de informações sobre os usuários. Ainda que insistamos em ter uma conta em um provedor pago, nada nos garante que este, de alguma forma, não se ligou a alguma vantagem oferecida pela gigante dos serviços grátis. E, de outra banda, ao trocarmos correspondência com pessoas que mantém contas gratuitas, não só do Gmail, mas também do Yahoo! ou Hotmail, para falarmos apenas dos maiores, teremos igualmente nossa correspondência remexida. Isso sem falar nas listas e fóruns de discussões, às quais cada dia aderem-se mais, seja para se falar sobre receitas culinárias, preferências musicais, seriados, artistas, fofocas, enfim tudo.
Daí passamos para os blogs. A cada dia mais pessoas expõem sua vida pessoal, pensamentos, posição política, atividade profissional, preferências de consumo, tudo através destes sítios que se tornaram mania. Isso sem se falar no Orkut, que faculta o preenchimento de uma série de informações que vão desde a raça, preferência sexual, estado civil, até o currículo profissional, além de proporcionar ao usuário que se ligue a grupos temáticos de todas as matizes, relacionados desde a hábitos de infância (“Tocava a Campanhia e Fugia”, com mais de um milhão de usuários) até de ajuda mútua como de pessoas com anorexia ou DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção).
Quem trabalha muito com arquivos de texto, seja no formado doc, pdf, rtf, conta também com a excelente ferramenta Google Desktop, que permite que todos os seus textos sejam indexados, facilitando sobremaneira a pesquisa por termos recordados, dando um ponto de acesso inclusive aos arquivos contidos no próprio computador, como o faz, igualmente, agora com imagens a ferramenta denominada Picasa.
Peguem tudo isso e mais as consultas que cada um faz com freqüência ao Google Search (o serviço de pesquisas) e teremos um panorama detalhado de toda a nossa vida. Analisado com eficiência por sistemas informatizados que, possivelmente, permitirão à empresa saber antes mesmo de nós qual será nosso próximo carro, viagem, celular…
Se após tudo isso se tem ainda alguma dúvida do poderio desta empresa dêem uma olhada na ferramenta Analytics. Ela monitora qualquer sítio da Internet e dá informações de como o usuário chegou ali (pesquisa no Google, no Yahoo!, no MSN, digitando o link…), quais as páginas ele visitou, quanto tempo permaneceu, se era ou não a sua primeira visita ao sitio, qual sistema operacional ele estava usando, qual navegador da Web, seu IP (número de navegação informado pelo provedor, através do qual deveria ser possível identificar o usuário) e localização precisa (cidade, estado e país).
Estas são as informações tornadas públicas, imaginem quais não guardará o poderoso Google somente para si? O Google sabe o que nós fizemos no verão passado e sabe o que faremos no próximo.
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Na gravura: sede do Google visto do espaço, imagem do sítio Undergoogle.