Aproveitando minha primeira semana de férias – que vou utilizar para colocar meus trabalhos do mestrado e saúde em dia – estive hoje no Centro de Porto Alegre (atualmente é perfeitamente possível viver na cidade sem nunca ir ao seu Centro, principalmente para quem ter carro).
Meu trajeto foi bem curto: desci da lotação quase na Esquina Democrática, percorri a Rua da Praia até a Praça da Alfândega e, um pouco adiante, peguei outra lotação.
Pude ver uma certa revitalização do Centro. Algumas lojas novas, livrarias bem decoradas, mas também muitas e decadentes lojas de 1,99.
No entanto uma coisa me surpreendeu bastante, e este é o tema do meu artigo: a decadência da Banca de Revistas Vera Cruz. A Banca Vera Cruz, que ostenta como ano de inauguração 1878, remonta memórias de minha infância e adolescência. Sempre gostei muito de ler e, naquela época, devorava histórias em quadrinhos.
Assim quando ía com minha mãe no Centro era comum passarmos pela centenária banca onde, além do meu objeto de desejo, eu podia vislumbrar jornais de todo o país e de várias partes do mundo, em grande quantidade, todos expostos e sendo consumidos com voracidade pelas pessoas que passavam apressadas indo e voltando dos escritórios situados no então efervescente Centro da Capital Gaúcha.
Pois hoje quando passei pela frente da mesma banca praticamente não a reconheci: as mesas de exposição de periódicos, que ficavam na rua ocupando quase que três vezes as dimensões da banca não existiam mais e mesmo a sua parte interna não se destina inteiramente à venda de jornais e revistas, sendo ocupada por duas geladeiras para venda de água e refrigerantes.
Mas de tudo isso o que mais me surpreendeu foi o anúncio, quase como que em busca de salvação, de jornais e apostilas de concursos. Caminhando um pouco mais passei por uma outra banca de jornais, mais nova, nessa me dei ao trabalho de contar: havia sete publicações distintas anunciando concursos públicos em diversos estados do país.
Recordei a minha fase de concursos, logo após a aprovação no vestibular, quando então, em busca de um trabalho estável eu buscava em publicações semelhantes – então não tão abundantes – uma colocação. Acabei passando logo, em um concurso para a Justiça do Trabalho, onde, após mais dois outros concursos, continuo trabalhando. Francamente não sei o que estaria fazendo se não fosse magistrado, no entanto tenho certeza que dificilmente me submeteria ao trabalho subordinado, principalmente em decorrência de minha personalidade.
Acredito que, em momentos como o atual, em que empresas realizam despedidas coletivas ao menor sinal de redução de sua lucratividade, muitas pessoas qualificadas, que seriam preciosas para o desenvolvimento de uma empresa, acabam pensando como eu e buscando colocações às vezes até mais modestas, mas que lhes assegurem uma coisa preciosa: a possibilidade de saber que no próximo mês terão um emprego e uma renda.
Por isso defendo e sempre defenderei a estabilidade e a garantia de emprego e não consigo entender aqueles que lhe são contrários. Se para as empresas, de forma individual e egoísta, a estabilidade é prejudicial, ela é benéfica para a sociedade como um todo, na medida em que, impedindo os trabalhadores de perderem sua fonte de sustento, lhes assegura a liberdade de se endividar e consumir, o que é muito saudável para a economia do país.
A foto acima e muitas outras de prédios antigos de Porto Alegre, foram tiradas por Noize.
Veja mais sobre o Centro de Porto Alegre na Wikipédia.
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A estabilidade seria válida se, com ela, viessem formas de garantir o bom atendimento e a qualidade do funcionalismo. Infelizmente, como seu próprio título diz e uma pesquisa recente mostrou, eles querem apenas a estabilidade. Querem uma garantia e uma carta branca para a vadiagem e para o mau atendimento.
Sem uma avaliação série e sem uma possibilidade de punição efetiva, o maus funcionário público se eterniza no cargo e garante ao contribuinte momentos de agonia e desespero enquanto saboreia mais um doce cafezinho.
O brasileiro, infelizmente, não está apto para a estabilidade.