O Pedro Dória escreveu hoje sobre a perplexidade que gera no país a dicotomia PSDB x PT, como se fosse um debate direita x esquerda, quando, na verdade, ambos os partidos teriam as mesmas origens, se enquadrando possivelmente sob uma mesma bandeira, acaso tivéssemos um bipartidarismo como o estadunidense.
É verdade, ocorre, contudo que a administração FHC se destacou pela até um certo ponto desmedida privatização, inspirada na cartilha do Fundo Monetário Internacional, fortemente inspirada no pensamento Liberal, por conseguinte de direita.
Lula na medida em que manteve muito da administração anterior (até para não “desandar a maionese”, o que quase aconteceu nas vésperas de sua eleição) acabou sendo considerado mais para a direita, embora para os conservadores de plantão, apenas pela sua origem sindical, sempre foi combatido como se fosse um extremo socialista. Aliás algumas das medidas consideraras por Dória como sendo “de esquerda”, como os programas de renda mínima, estão na doutrina de pensadores liberais, como Hayek, um tipo de papa (ou santo) do Liberalismo.
A verdade é que no nosso país, infelizmente, muitas coisas não funcionam como nos modelos alienígenas, e acabamos tendo, como dizia Brizola, um socialismo moreno, e direita e esquerda também “adulteradas” ou, como se diz em gastronomia, em conformidade com o paladar da região.
Em verdade o grande problema das esquerdas brasileiras, e da verdadeira direita, é a falta de aglutinação decorrente do pluripartidarismo, no qual meras tendências dentro de tal ou qual partido acabaram se tornando partidos, um pouco por causa do “fundo partidário”, outro pouco por causa do “estrelismo” de personalidades, no que perde, como sempre, o eleitor.
Exemplo disso foi a expulsão dos radicais do PT e a fundação do PSOL.
Caro Jorge, acredito sinceramente que existe um desconhecimento de sua parte a respeito da dinâmica interna dos partidos de esquerda no Brasil, ou pelo menos daqueles q assim se dizem, só isso explica o fato de que vc só consiga vislumbrar o erro histórico do personalismo partidário e o fundo eleitoral como únicos motivos pra a formação de um partido como o PSOL. Aliás, eu ñ sei se vc reparou, mas há uma incoerência clara no final do seu texto, vc usa essas duas características como motivos justificadores mas tb diz que os “radicais” do PT foram expulsos. Ora, fossem esses os motivos ñ haveria necessidade de expulsão, eles formariam um partido próprio independente dela ñ acha?
Outra coisa, ao dizer “meras tendências” vc comete o erro de subestimar a importância que estas tiveram no PT (hj muito menos) que procurou aglutinar em seus quadros diversas facetas do pensamento de esquerda durante a ditadura e logo após a mesma, importância que se mantém intacta no PSOL por exemplo, que tem em suas fileiras tendências gramcistas, trotskistas, etc.
Sei que vc ñ disse isso, e não quero de forma alguma colocar palavras em seu texto, mas ñ vejo as tão apregoadas vantagens para a nossa suposta democracia representativa de um sistema bipartidário, a meu ver ele só serve pra duas coisas, facilitar a vida de analistas políticos (em tese) e facilitar o jogo eleitoral para os mandatários eternos da politica tupiniquim.
Prezado Carlos,
Agradeço o seu comentário. O artigo é apenas uma reflexão minha. Não sou, nem pretendo ser, um especialista em partidos políticos.
Não vejo a “incoerência” apontada. Com o amadurecimento verás, como eu, que não há verdades absolutas, cada um de nós tem as suas verdades e apenas elas é que podemos expressar, sem desdenhar das opiniões alheias que, mesmo quando divergentes, servem para estender nosso horizonte sobre o assunto.