
A notícia de que a Playboy contendo fotos da atriz Carol Castro teve a sua circulação restringida não poderia ser melhor para a própria modelo e para a Editora Abril. A edição, que poderia até passar despercebida, agora será um ícone, objeto de coleção. Alcançará preços estratosféricos no mercado de objetos.
Tudo por causa de uma excelente estratégia de marketing que, através do uso de um instrumento de algum apelo religioso, sensibilizou um instituto, que inclusive nada tem em seu objeto a defesa da religião cristã, e um padre, mas que já foi o suficiente para dar repercussão além das fronteira à publicação.
É importante destacar que inclusive falta legitimidade para o Instituto Juventude pela Vida, que tem como missão, conforme a sua própria página na Internet: “Promover e defender a vida humana, desde a concepção até a morte natural”. Por igual não se entende que um único sacerdote da Igreja Católica se arvore no direito de a representar, quando a própria não se manifestou, nada obstante seja quem, em tese, possuiria os direitos de imagem sobre o terço (ou rosário) empunhado pela atriz.
Inclusive a Igreja Católica, acaso se considere efetivamente ofendida pelo ato, tem meios muito mais efetivos para a sua punição como, por exemplo, a excomunhão da atriz e demais produtores, ou o registro da Revista no temível Index de publicações proibidas, que são muito mais condizentes com a natureza do ilícito perpetrado do que o apelo a uma atuação do Estado, cujo efeito prático é muito mais de divulgação do que de coibição.
Há algum tempo fiquei surpreso com a postura dos uruguaios em relação à laicidade do Estado, que se separou da Igreja e tem nesta separação um postulado essencial. O Brasil, nada obstante também não possua uma religião oficial, se encontra, freqüentemente, enrolada nos laços que já o ligaram à religião Católica, o que, convenhamos, em um país que se destaca pela diversidade étnica, sequer combina.
Em todo caso não deixa de ser um fenômeno. A Carol Castro, me perdoem os seus fãs, mais do que olhar de peixe morto, tem cara de carpa. Se, mais do que ser atriz global, consegue ainda emplacar uma capa da revista masculina mais lida (ou vista) é, definitivamente, porque Deus gosta dela, então é melhor deixar quieto…
Leia também: Playboy de Carol Castro pode ser retirada das bancas por causa de um terço católico.
@Henderson Bariani: Obrigado pela correção. De fato não tinha presente o fim do Index, mas isso apenas indica que a própria Igreja está mais moderna que alguns dos seus sedizente fiéis.
@Leo Martins: igualmente relevante a complementação. Muito obrigado a ambos, fico satisfeito de ter leitores como vocês.
Abraços!
Esse fenômeno do tiro sair pela culatra é conhecido nos EUA como “efeito Streisand”: quando Barbra Streisand processou um fotógrafo por tirar fotos aéreas de sua mansão, as fotos se tornaram um hit na internet. Não duvido que as editoras, empresas, comecem a usar essa tática de fazer “publicidade” nas páginas policiais, seguindo a tradição do “jornal do Ratinho”…
Aliás, o cara que cunhou o termo, Mike Masnick, escreve no site Techdirt, que é na minha opinião o melhor site americano sobre regulamentação da internet (melhor até mesmo que o lendário slashdot). A primeira aparição do termo:
http://www.techdirt.com/articles/20050105/0132239.shtml
abraço, Leo
Só uma correção ao seu excelente texto, Meritíssimo: o Index Librorum Prohibitorum (ou só Index, para os íntimos) foi extinto no Concílio Vaticano II, na década de 60 do século passado. A única instituição da ICAR que tem um Index próprio – apesar de não se chamar por esse nome, internamente – é a temível Opus Dei.